quinta-feira, agosto 02, 2012

Nióbio do Brasil

Por que bens e serviços produzidos de forma sustentável e eticamente responsável custam mais do que seus equivalentes? A resposta a esta pergunta nos é dada por Raj Patel em O Valor de Nada. Segundo Patel grande parte dos produtos consumidos atualmente não incorporam externalidades sociais e ambientais que são custos que deveriam estar agregados ao valor final do produto.
Dessa forma, grande parte dos bens de consumo agem de forma desonesta, não incorporando o valor do passivo ambiental gerado em seus sistemas de produção. Preços artificialmente baixos representam os dividendos dos consumidores nesse sistema de apropriação de lucro, que nos tem dado roupas mais baratas de comprar do que de lavar e telefones mais baratos de substituir do que consertar.
Exemplificando vamos à República Democrática do Congo. As empresas de equipamentos eletrônicos utilizam nióbio e tântalo, importantes das reservas mundiais de columbita-tantalita estão presentes no Congo. Para patrulhar os acessos a esses recursos, unidades militares do Congo violentaram, torturaram, escravizaram e mataram. Mulheres que lutam para criar os seus filhos no Congo têm uma expectativa de vida de 57 anos, continuam a sofrer em meio à maior epidemia de estupros do mundo e ganham apenas metade do que recebem os homens (este último ponto ainda é uma realidade no universo rural brasileiro). Nas horas vagas, as milícias da República Democrática do Congo arranjam tempo para matar gorilas da montanha!!!!
O Nióbio é encontrado principalmente no Brasil e no Canadá, os quais totalizam quase 99% da produção mundial. O Brasil detêm mais de 85% do estoque mundial, Austrália e a República Democrática do Congo concentra o resto final da produção. Na década de 1950, com o início da corrida espacial, aumentou muito o interesse pelo nióbio, o mais leve dos metais refratários. Ligas de nióbio, como Nb-Ti, Nb-Zr, Nb-Ta-Zr, foram desenvolvidas para utilização nas indústrias espacial e nuclear, e também para fins relacionados à supercondutividade. Os tomógrafos de ressonância magnética para diagnóstico por imagem utilizam magnetos supercondutores feitos com a liga Nb-Ti.
Mina de Nióbio da CBMM em Araxá, Minas Gerais.
Outro desenvolvimento importante da década de 1950 foi o aço microligado que exibe características de resistência mecânica e tenacidade que até então somente podiam ser obtidas com aços ligados muito mais caros. A descoberta de que a adição de uma pequena quantidade de nióbio ao aço carbono comum melhorava consideravelmente as propriedades deste, levou à utilização em grande escala do conceito de microliga, com grandes vantagens econômicas para a engenharia estrutural, para a exploração de óleo e gás e para a fabricação de automóveis.
Para aumentar a resistência mecânica do aço, basta elevar seu teor de carbono. Entretanto, essa solução trivial altera importantes características do aço, como a soldabilidade, a tenacidade e a conformabilidade, o que levou a ciência moderna à busca de alternativas que aumentassem a resistência mecânica do aço sem alterar as outras propriedades desejáveis. Chegou-se, assim, aos aços ARBL microligados com nióbio que exibem uma boa combinação de propriedades mecânicas. Os aços microligados são produzidos também com vanádio e com titânio. Ressalte-se que a sinergia entre nióbio e titânio, quando presentes no aço, é muito mais efetiva do que entre nióbio e vanádio.
Diante do exposto o jornal O Estado de São Paulo em 07/12/2010 publicou a seguinte matéria: a grande dependência do nióbio brasileiro deve explicar, segundo especialistas, a preocupação do governo dos Estados Unidos com relação à segurança das minas do País. Relatório anual do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) indica que a maior economia do mundo continuará dependente do nióbio brasileiro. "As reservas domésticas (dos Estados Unidos) de nióbio têm baixa qualidade, algumas complexas do ponto de vista geológico, e muitas não são comercialmente recuperáveis", diz o texto, publicado em janeiro. Segunda maior reserva, o Canadá é responsável por apenas 7% da produção mundial.
O Jornal do Brasil em 20/01/2012 publicou a seguinte matéria: Em setembro de 2011, um consórcio chinês formado pelo Taiyuan Iron e Steel Group, o conglomerado financeiro do Citic Group e o Baosteel Group adquiriu, por US$ 1,95 bilhão, 15% da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), localizada em Araxá, em Minas Gerais. http://www.cbmm.com.br/portug/index.html
A posição estratégica do país na produção do metal, e a negociação envolvendo a CBMM, levantam a questão a respeito de como o governo e as empresas nacionais lidam com as riquezas naturais brasileiras, levando em conta os próprios interesses estratégicos. O negócio fechado com a China, apesar de polêmico, gerou quase nenhum questionamento em Minas Gerais, ao contrário, por exemplo, da privatização da Vale, ocorrida em 1997, e alvo de um verdadeiro levante popular.
Quanto ao tântalo o Brasil é responsável por 14% da sua produção mundial, além de ser dono de 61% das reservas do minério em todo o planeta.
Questões econômicas e políticas
Segundo o artigo "A questão do nióbio", do administrador de empresas, Ronaldo Schlichting, publicado pelo jornal A nova democracia, o Brasil se subjuga, e deveria dar mais valor às suas riquezas naturais. Em sua opinião, o preço do nióbio refinado, com 99,9% de pureza, tem um preço na Bolsa de Metais de Londres meramente simbólico. Veja mais abaixo, contudo que há reservas abundantes no Brasil e uma demanda ainda baixa, o que se traduz por valores de mercado baixos.

Processo de Formação dos Mineriais
O Grupo Araxá, onde está alojado o Complexo Carbonatítico do Barreiro, constitui dominantemente sequencias originais de rochas formadas por sedimentação de mar profundo e de plataforma continental, vulcanismo contemporâneo e suítes sin-orogênicas de rochas plutônicas, sendo o conjunto metamorfizado e completamente deformado, o que dificulta o estabelecimento da sucessão estratigráfica original.
O Complexo Carbonatítico do Barreiro é aproximadamente circular e apresenta um diâmetro de cerca de 4,5 km. Sua intrusão, ocorrida há 90 milhões de anos, arqueou quartzitos e xistos do Grupo Araxá e gerou fraturas radiais e concêntricas nas rochas encaixantes, fraturando intensamente os quartzitos. Na zona de contato, a fenitização manifestou-se sob forma de veios/vênulas, constituídos principalmente de anfibólio sódico, que preenchem fraturas em quartzitos da zona de contato. Alguns fenitos quartzo-feldpáticos são também encontrados.
Minério primário (rocha sã): as maiores concentrações de nióbio no depósito são encontradas na porção central da estrutura. O minério primário contém carbonatos, flogopita, magnetita e apatita, usualmente rico em pirocloro (BaNb2O6). O nióbio tem alta afinidade por carbono e nitrogênio, formando carbonetos e carbonitretos.
O intemperismo tropical predominante na região e os padrões de drenagem centrípeta desenvolvidos a partir de encaixantes mais resistentes resultaram no desenvolvimento de uma cobertura de solo muito espessa, favorecendo a concentração econômica do fosfato e nióbio tradicionalmente explorados na região, além de concentrações de titânio ainda não aproveitadas comercialmente.
Na região de Araxá, a concentração média de nióbio no minério primário é de 1,5% Nb2O5, enquanto os teores máximos atingem 8% Nb2O5. As reservas de nióbio são praticamente inesgotáveis, considerando o mercado atual de nióbio. Testemunhos de sondagem, coletados a 800 metros de profundidade, evidenciam rochas com pirocloro, que provavelmente se estendem em profundidade.
Minério residual (manto de intemperismo): derivado do minério primário, o minério residual está sendo lavrado e contém cerca de 5% de bariopirocloro. As reservas minerais no minério residual são cerca de 440 milhões de toneladas, suficientes para atender à demanda mundial por várias décadas. A espessura do minério residual atinge 250 m e o teor médio varia entre 2,5% a 3,0% Nb2O5. O minério residual apresenta até 11% Nb2O5.
O intemperismo do minério primário propiciou o enriquecimento relativo do pirocloro devido à preservação física desse mineral em relação aos demais minerais. Rochas coletadas a partir de testemunhos de sondagem em zonas brechadas do minério primário, evidenciam um processo de transformação do pirocloro, a partir das bordas e fraturas, com substituição de Ca e Na por Ba, sugerindo ação de água meteórica.
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