Por
que bens e serviços produzidos de forma sustentável e eticamente responsável
custam mais do que seus equivalentes? A resposta a esta pergunta nos é dada por
Raj Patel em O Valor de Nada. Segundo Patel grande parte dos produtos
consumidos atualmente não incorporam externalidades sociais e ambientais que
são custos que deveriam estar agregados ao valor final do produto.
Dessa
forma, grande parte dos bens de consumo agem de forma desonesta, não incorporando
o valor do passivo ambiental gerado em seus sistemas de produção. Preços artificialmente
baixos representam os dividendos dos consumidores nesse sistema de apropriação
de lucro, que nos tem dado roupas mais baratas de comprar do que de lavar e
telefones mais baratos de substituir do que consertar.
Exemplificando
vamos à República Democrática do Congo. As empresas de equipamentos eletrônicos
utilizam nióbio e tântalo, importantes das reservas mundiais de
columbita-tantalita estão presentes no Congo. Para patrulhar os acessos a esses
recursos, unidades militares do Congo violentaram, torturaram, escravizaram e
mataram. Mulheres que lutam para criar os seus filhos no Congo têm uma
expectativa de vida de 57 anos, continuam a sofrer em meio à maior epidemia de
estupros do mundo e ganham apenas metade do que recebem os homens (este último
ponto ainda é uma realidade no universo rural brasileiro). Nas horas vagas, as
milícias da República Democrática do Congo arranjam tempo para matar gorilas da
montanha!!!!
O Nióbio
é encontrado principalmente no Brasil e no Canadá, os quais totalizam quase 99%
da produção mundial. O Brasil detêm mais de 85% do estoque mundial, Austrália e
a República Democrática do Congo concentra o resto final da produção. Na década
de 1950, com o início da corrida espacial, aumentou muito o interesse pelo
nióbio, o mais leve dos metais refratários. Ligas de nióbio, como Nb-Ti, Nb-Zr,
Nb-Ta-Zr, foram desenvolvidas para utilização nas indústrias espacial e
nuclear, e também para fins relacionados à supercondutividade. Os tomógrafos de
ressonância magnética para diagnóstico por imagem utilizam magnetos
supercondutores feitos com a liga Nb-Ti.
Mina de Nióbio da CBMM em Araxá, Minas Gerais.
Outro
desenvolvimento importante da década de 1950 foi o aço microligado que exibe características
de resistência mecânica e tenacidade que até então somente podiam ser obtidas
com aços ligados muito mais caros. A descoberta de que a adição de uma pequena
quantidade de nióbio ao aço carbono comum melhorava consideravelmente as propriedades
deste, levou à utilização em grande escala do conceito de microliga, com
grandes vantagens econômicas para a engenharia estrutural, para a exploração de
óleo e gás e para a fabricação de automóveis.
Para
aumentar a resistência mecânica do aço, basta elevar seu teor de carbono.
Entretanto, essa solução trivial altera importantes características do aço,
como a soldabilidade, a tenacidade e a conformabilidade, o que levou a ciência
moderna à busca de alternativas que aumentassem a resistência mecânica do aço
sem alterar as outras propriedades desejáveis. Chegou-se, assim, aos aços ARBL
microligados com nióbio que exibem uma boa combinação de propriedades
mecânicas. Os aços microligados são produzidos também com vanádio e com
titânio. Ressalte-se que a sinergia entre nióbio e titânio, quando presentes no
aço, é muito mais efetiva do que entre nióbio e vanádio.
Diante
do exposto o jornal O Estado de São Paulo em 07/12/2010 publicou a seguinte
matéria: a grande dependência do nióbio brasileiro deve explicar, segundo
especialistas, a preocupação do governo dos Estados Unidos com relação à
segurança das minas do País. Relatório anual do Serviço Geológico dos Estados
Unidos (USGS, na sigla em inglês) indica que a maior economia do mundo
continuará dependente do nióbio brasileiro. "As reservas domésticas (dos
Estados Unidos) de nióbio têm baixa qualidade, algumas complexas do ponto de
vista geológico, e muitas não são comercialmente recuperáveis", diz o
texto, publicado em janeiro. Segunda maior reserva, o Canadá é responsável por
apenas 7% da produção mundial.
O Jornal
do Brasil em 20/01/2012 publicou a seguinte matéria: Em setembro de 2011, um consórcio
chinês formado pelo Taiyuan Iron e Steel Group, o conglomerado financeiro do
Citic Group e o Baosteel Group adquiriu, por US$ 1,95 bilhão, 15% da Companhia Brasileira de Metalurgia e
Mineração (CBMM), localizada em Araxá, em Minas Gerais. http://www.cbmm.com.br/portug/index.html
A
posição estratégica do país na produção do metal, e a negociação envolvendo a
CBMM, levantam a questão a respeito de como o governo e
as empresas nacionais lidam com as riquezas naturais brasileiras, levando em
conta os próprios interesses estratégicos. O negócio fechado com a China,
apesar de polêmico, gerou quase nenhum questionamento em Minas Gerais, ao
contrário, por exemplo, da privatização da Vale,
ocorrida em 1997, e alvo de um verdadeiro levante popular.
Quanto
ao tântalo o Brasil é responsável por 14% da sua produção mundial, além de ser
dono de 61% das reservas do minério em todo o planeta.
Questões
econômicas e políticas
Segundo
o artigo "A questão do nióbio", do administrador de empresas, Ronaldo
Schlichting, publicado pelo jornal A nova democracia, o Brasil se subjuga, e
deveria dar mais valor às suas riquezas naturais. Em sua opinião, o preço do
nióbio refinado, com 99,9% de pureza, tem um preço na Bolsa de Metais de
Londres meramente simbólico. Veja mais abaixo, contudo que há
reservas abundantes no Brasil e uma demanda ainda baixa, o que se traduz por
valores de mercado baixos.
O
Complexo Carbonatítico do Barreiro é aproximadamente circular e apresenta um
diâmetro de cerca de 4,5 km. Sua intrusão, ocorrida há 90 milhões de anos,
arqueou quartzitos e xistos do Grupo Araxá e gerou fraturas radiais e
concêntricas nas rochas encaixantes, fraturando intensamente os quartzitos. Na
zona de contato, a fenitização manifestou-se sob forma de veios/vênulas,
constituídos principalmente de anfibólio sódico, que preenchem fraturas em
quartzitos da zona de contato. Alguns fenitos quartzo-feldpáticos são também
encontrados.
Minério
primário (rocha sã): as maiores concentrações de nióbio no depósito são encontradas
na porção central da estrutura. O minério primário contém carbonatos,
flogopita, magnetita e apatita, usualmente rico em pirocloro (BaNb2O6).
O nióbio tem alta afinidade por carbono e nitrogênio, formando carbonetos e
carbonitretos.
O
intemperismo tropical predominante na região e os padrões de drenagem
centrípeta desenvolvidos a partir de encaixantes mais resistentes resultaram no
desenvolvimento de uma cobertura de solo muito espessa, favorecendo a
concentração econômica do fosfato e nióbio tradicionalmente explorados na
região, além de concentrações de titânio ainda não aproveitadas comercialmente.
Na
região de Araxá, a concentração média de nióbio no minério primário é de 1,5%
Nb2O5, enquanto os teores máximos atingem 8% Nb2O5. As
reservas de nióbio são praticamente inesgotáveis, considerando o mercado atual
de nióbio. Testemunhos de sondagem, coletados a 800 metros de profundidade, evidenciam
rochas com pirocloro, que provavelmente se estendem em profundidade.
Minério
residual (manto de intemperismo): derivado do minério primário, o minério
residual está sendo lavrado e contém cerca de 5% de bariopirocloro. As reservas
minerais no minério residual são cerca de 440 milhões de toneladas, suficientes
para atender à demanda mundial por várias décadas. A espessura do minério
residual atinge 250 m e o teor médio varia entre 2,5% a 3,0% Nb2O5.
O minério residual apresenta até 11% Nb2O5.
O
intemperismo do minério primário propiciou o enriquecimento relativo do
pirocloro devido à preservação física desse mineral em relação aos demais
minerais. Rochas coletadas a partir de testemunhos de sondagem em zonas
brechadas do minério primário, evidenciam um processo de transformação do
pirocloro, a partir das bordas e fraturas, com substituição de Ca e Na por Ba,
sugerindo ação de água meteórica.
Informações adcionais podem ser obtidas:
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0169136811000825
http://www.valor.com.br/video/2984396/os-minerais-da-discordia
http://www.valor.com.br/video/2984396/os-minerais-da-discordia